A intensidade do Bilbao de Bielsa
Poucas equipes de futebol no mundo têm atraído tamanha admiração pelo modelo de jogo quanto o Athletic Bilbao. Treinados pelo argentino Marcelo Bielsa, os bascos eliminaram o Manchester United nas oitavas de final da Liga Europa com duas vitórias amparadas na total asfixia do adversário. Seja na Inglaterra ou no País Basco, as intenções de Sir Ferguson foram amordaçadas pela intensidade do 4-3-3 del Loco.
Este 4-3-3 é aquele definido por José Mourinho como o sistema tático que proporciona a melhor ocupação de espaços: linha defensiva, um volante e dois meias (triângulo de base alta) e três atacantes, com dois pontas e um centroavante de referência:
Mas é preciso acrescentar a intensidade na movimentação sincronizada entre todos os protagonistas deste Bilbao para o modelo de jogo proposto ser percebido. Futebol é ocupação de espaços de forma inteligente. E qual maneira de se fazer isso pode superar a movimentação constante de forma sincronizada e compacta?
Separei em um vídeo três momentos que apresentam com clareza a intensidade de movimentos aplicada como estratégia de jogo ao 4-3-3 base do Bilbao. O primeiro lance mostra a marcação alta e agressiva, com perseguições e botes constantes; o segundo evidencia a formação das linhas de passes curtos, com opções variadas nas proximidades de quem conduz a bola, formando pequenos triângulos que permitem manter a posse de forma ofensiva, o que exige muita movimentação em espaços reduzidos; e o terceiro é um gol, com nada menos do que cinco jogadores dentro da área para concluir o cruzamento, e mais dois no rebote alto:
Com a bola ou sem ela o Bilbao agrupa-se, como um organismo vivo que tem por objetivo recuperar a bola e impedir o adversário de tomá-la graças a esta aproximação de todos os jogadores, e à iniciativa deles em sempre procurar o espaço vazio para oferecer opções de passe, ou então para agredir a posse do oponente com marcação em alta pressão.
Bielsa soube fazer os jogadores entenderem a proposta tática sugerida, e também soube fazê-los comprar a causa. O time corre sem parar durante todo o jogo. A agressividade na marcação e a velocidade com a posse persistem. Quem dá o bote alto na marcação traz consigo todas as linhas, contando com dois companheiros próximos na cobertura; e quem carrega a bola sempre conta com pelo menos duas opções de passe, em linhas que levam à formação de vários triângulos – as “pequenas sociedades” do futebol espanhol:
O princípio, na essência, é o mesmo utilizado pelo Barcelona, ebora sem um volume tão grande de craques no elenco. Mas o 4-3-3 de marcação agressiva, posse de bola ofensiva, equipe estreita (todos os setores agrupados na faixa de campo onde a bola está) e intensidade/iniciativa dos jogadores é semelhante. Até mesmo na variação para o 3-4-3, quando o volante recua entre os zagueiros e libera os laterais para o apoio simultâneo, alinhados aos meias.
Iturraspe é este volante que auxilia os zagueiros Javi Martinez e San Jose, enquanto os laterais Iraola e Aurtenetxe fazem o vai-vem constante; De Marco e Iturraspe completam o meio-campo na base alta do triângulo, dando velocidade às transições em passes curtos, tocando e de imediato oferecendo nova opção; Susaeta e Muniaín atuam como pontas, agredindo sempre, com muita vitória pessoal no drible e na infiltração veloz, sem abdicar da marcação às subidas dos laterais adversários; e Llorente faz a referência – mesmo sem a mobilidade dos demais baixinhos ágeis, ele participa bastante das trocas de passes com pivôs curtos, e conclui sempre que possível.
Em Old Trafford, dia 08 de março, o Bilbao venceu por 3 a 2 com 55% de posse de bola, e 19 chances de gol.