Eu tenho a sensação de que em Portugal não se prepara a selecção do futuro, pois parece-me que convocam apenas os melhores jogadores do momento em que são convocados. A Alemanha, quando fez uma campanha embaraçosa no europeu de 2000, agiu de modo a contrariar isso a longo prazo e não relaxaram com a chegada à final do mundial de 2002, como muitos o fariam. A DfB, federação de futebol do país, reuniu-se com os clubes da primeira e segunda divisões e combinaram uma série de medidas para melhorar o talento interno dos jogadores. Na minha opinião, desconhecendo até que ponto a federação nacional faz isto, em Portugal dever-se-ia seguir o modelo alemão o melhor que conseguirem.
Do que entendi, a DfB organizou pelo país imensos pólos onde crianças, dos oito aos catorze, eram observadas por treinadores credenciados pela UEFA e aquelas com mais talento natural e empenho eram redireccionadas para verem desenvolvidas a sua capacidade técnica e táctica. O que isto quer dizer é que a federação recruta os jogadores para os clubes e não os clubes para a federação, o que sinto que se passa em Portugal. Isto também quer dizer que o talento se desenvolve para todas as posições e não só para algumas.
"No passado existiam imensos jogadores altos. Mas reparem nos nossos jogadores agora. Concluímos que o mais importante é a técnica, seja qual for o tamanho dos jogadores. Maradona, Iniesta, Xavi - todos jogadores baixos. Mas para a defesa precisamos de jogadores altos. O Hummels é alto, mas muito bom com a bola: em 1982 o Hummels nunca seria equacionado para a defesa, seria treinado como um nº 10."
Vendo estas palavras de Robin Dutt, director desportivo da DfB, concluo que eles não só evoluíram as mentalidades na recruta de crianças como procuraram um equilíbrio de posições na formação. Ou seja, não formaram médios ofensivos a torto e a direito nem se despreocuparam com outras posições. Julgo que uma mentalidade prevalecente é a de simplesmente fazer a formação e esperar que uma posição em campo se resolva sozinha. Talvez por isso Portugal não possua avançados de grande qualidade. A FA, federação inglesa de futebol, tem visitado escolas de formação na Alemanha e procurado a ajuda de várias pessoas que trabalham neste sistema, porque sentem muitas deficiências na sua formação interna e pretendem contornar isso. Não me admiraria que neste momento sejam humildes ao ponto de reconhecerem a Alemanha como superior neste aspecto e imitem o que ela fez para poderem colher os frutos daqui a dez anos.
Para mim, o plano a curto prazo passa por deixar de convocar alguns jogadores da selecção e avançar imediatamente com a procura do talento em detrimento dos resultados imediatos. Os clubes grandes portugueses não avançam da fase de grupos da Liga dos Campeões, logo eu digo que eles não têm nada mais a perder do que já perdem e deviam considerar o potenciar de jogadores nacionais. Eu desconheço os jogadores novos de Portugal, mesmo aqueles com lugar assegurado nos três grandes e como não acompanho a liga portuguesa não posso dizer quem destes entre na selecção. Mas vejo a selecção a jogar e, não distinguindo a idade do talento demonstrado, penso que os seguintes devem sair nos próximos dois anos a um nível gradual: Eduardo, Beto, Pepe, Bruno Alves, Pepe, Ricardo Costa, João Pereira, Miguel Veloso, Raul Meireles, Vieirinha, Silvestre Varela, Rúben Amorim, Hugo Almeida, Éder e Hélder Postiga; dos convocados recentemente mas não-participantes no Mundial, Rolando, Ricardo Quaresma, Rúben Micael, Danny, Custódio, Paulo Machado e Edinho. Talvez possam deixar o Pepe, o João Pereira, o Rolando, o Vieirinha e o Varela na selecção pela sua experiência e pelo que podem ensinar aos mais jovens, desde que tal não interfira com a convocatória de jogadores jovens de talento para as suas posições.
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