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"O buraco do espelho está fechado
Agora eu tenho que ficar aqui
Com um olho aberto, o outro acordado
No lado de lá onde eu caí
Pro lado de cá não tem acesso
Mesmo que me chamem pelo nome
Mesmo que admitam meu regresso
Toda vez que eu vou a porta some
A janela some na parede
A palavra de água se dissolve
Na palavra sede a boca cede
Antes de falar e não se ouve
Já tentei dormir a noite inteira
Quatro, cinco, seis da madrugada
Vou ficar aqui nessa cadeira
Uma orelha alerta, outra ligada
Agora eu tenho que ficar
Fui pelo abandono abandonado
Aqui dentro do lado de fora".
No velho banco de pedra
Mordia teus lábios doentemente
Como se se aproximasse o fim
Como se fosse deixar de haver presente
Naquele banco de pedra
Sombreado pelo grande carvalho,
Tornava aquele tom batido de morango
Em vermelho sangue vivo
A inconsequência adolescente
Batalhando a ferro e fogo
Só e não mais que por um simples momento
Aquele banco de pedra, aquele grande carvalho
São agora resquícios de memória
Duma guerra sempre perdida,
De quando tentava sugar cada momento
Até que ao tempo fizesse ferida
Ex-combatente da vida, resignado,
Trato a morte por tu,
Tendo a sorte de te tratar por nós
E assim, o dia pelo dia
Duas folhas secas à deriva do vento
Até que jazamos, túmulos de pedra
Lado a lado,
À sombra de um grande carvalho,
Que nos verá vivendo na morte
O sonho do para sempre.
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes, Rio de Janeiro, 1951
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96.
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 226.
''Vinte anos de teatro e alucinação. Até que um dia vendeu tudo e regressou a seu rio de infância e às árvores de sua aldeia natal.
Foi vencido, o artista, pelo cansaço e pelo horror de ser tantos reis assassinados e tantos amantes que agonizam. Finalmente liberto das ilusões mitológicas e vozes latinas de seus textos, era preciso agora ser alguém, antes ou depois de morrer, não se sabe. Postou-se diante de deus e disse: “eu, que tantos homens fui em vão, quero ser alguém, quero ser eu! E a voz solene de deus lhe respondeu: “nem eu mesmo sou eu. Sonhei um mundo como tu, shakespeare, sonhaste em tua obra. E entre as formas de meu sonho estás tu, que como eu, és muitos... E ninguém!''
(Jorge Luis Borges)
Uma vida jovem mas recheada com sucessos levaram a uma quebra emocional.
Sinto que sou um imbecil penso como um imbecil sou mesmo um imbecil. Tinha tudo aquilo que era preciso mas não vou voltar atrás, tenho de tomar decisões mesmo que não sejam boas tenho idade para isso sou crescido sou adulto. Vivo nesta porcaria de bairro com gente burra que não sabe distinguir a estupidez da inteligência. Não me resta nada, só este bloco de notas e o meu cão. O meu cão é preto é muito bom gosto muito dele é fantástico. Sinto que estou a enlouquecer. Sentar. Cigarro. Janela. Olho para o bairro que me rodeio e só vejo merda porra é só porcaria com esta gente mas pensando melhor não me arrependo tenho que aprender com os meus erros tomei uma decisão esta merda é definitiva já não posso mudar nada. Ora abandonei a minha namorada e ando a viver de subsídios quando podia estar a trabalhar na empresa do meu pai. Esta é a minha vida agora ainda bem que sim quero ver se consigo arranjar sítios por cá que me agradem é difícil é só merda aqui. Bateram-me à porta. Quem seria? Ladrão? Drogado? Mendigo? Fui abrir a porta não era ninguém era um puto estúpido a fazer uma partida estúpido que merda. Fui para o meu quarto festejar a minha independência que é tão boa que nem gosto dela.